O BRANCO É COMO O NADA
Originalmente, voar. Eis a ideia da criação em estado inerente, aquilo que poderá ser chamado de arte. Um quase verso que ultrapassa territórios invisíveis, que se multiplica. Matéria que, liberta, suaviza ou perturba os olhos, o cérebro, o corpo daquele outro que está diante. Então surgem os questionamentos, a procura, a não-resposta para algo que alivie o imenso vazio da existência humana: uma cognição secular. E o ato de repetir poderá levar ao novo. Novo? O que é o novo? O que vem a ser arte contemporânea? É o lugar onde tudo cabe? Não seria o lugar preciso para se conjugar o tal verbo voar? Mas e o medo? E o mercado? E os galeristas? E os colecionadores? O que fazemos com tudo isso? Voar não é apenas uma conjugação pertinente aos pássaros. Então o artista põe as mãos na areia para criar uma superfície que nos aproxima de outra galáxia, de um solo lunar que poderá se tornar em floresta, logo adiante. Com esse gesto, insiste em construir sua ancestralidade a partir do lugar onde sempre esteve. Simples assim: água, areia, sol, vento, formas arredondadas, poros bidimensionais, anúncio para o corpo físico da terceira dimensão. Eis a natureza fazendo fotossíntese para resistir ao futuro da Terra. Marcos Amato está diante do seu instante preciso. Foi e voltou. Percorreu seu espaço mental em silêncio, tentando buscar a si mesmo, justamente para criar a memória seguinte, onde luz e sombra fazem parte do mesmo princípio: o espaço infinito que está contido nesse tal verbo voar. Mas essa pulsão alimentar acontecerá apenas para aqueles que sabem sentir.
Diógenes Moura
Escritor, Curador, Editor